Um dia - faz muito tempo -
achei que era imperativo fazer um poema sobre a Bahia,
mãe de nós todos, amante crespa de nós todos.
Mas eu nunca tinha visto, sentido, pisado, dormido, amado a Bahia.
Ela era para mim um desenho no atlas,
onde nomes brincavam de me chamar:
Boninal,
Gentio do Ouro,
Quijingue,
Xiquexique,
Andorinha,
- Vem... me diziam os nomes ora doce.
- Vem! ora enérgicos ordenavam.
Não fui.
Deixei fugir a minha mocidade,
deixei passar o espírito de viajem,
sem o qual é vão percorrer as sete partidadas do mundo.
Ou por outra, começei a viajar por dentro, à minha maneira.
Ainda carece fazer poema sobre a Bahia?
Não.
A Bahia ficou sendo para mim
um poema natural
respirável
bebível
comível
sem necessidades de fonemas.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (1902 - 1987)
Referência:
Esse poema está em Amar se aprende amando . R. de Janeiro: Record, 1985.
(Texto extraído do Blog Conexão Gentio.
Na Photo - Gentio do Ouro - By Adelino Jr.)
Na Photo - Gentio do Ouro - By Adelino Jr.)
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