quarta-feira, 24 de junho de 2015

Amadurecer

Muitas pessoas dizem que chega certa hora da manhã e as costas começam a doer se a gente não levanta da cama. Não sei de onde tiram essas ideias, não me lembro de ter sentido isso uma vez que fosse. Aos domingos, eu costumo acordar a hora que dá na telha. Existe uma força como uma imã que me empurra na cama e não consigo levantar. Hoje, não foi diferente. Sem despertador e depois de usufruir do sono dos justos, levanto com a cara amarrotada e vou me arrastando até o banheiro. Lavo o rosto e me encaro no espelho: como estou envelhecendo. Quando a gente é criança, sempre tem um adulto que dá aqueles tapinhas na nossa cabeça e diz "aproveita essa fase que passa rápido", e você olha pra ele e dá aquele sorriso de Monalisa, sem mostrar os dentes, como quem quer dizer "prefiro tirar carta, ir a festas e acordar às 14h", como hoje, por exemplo. Pois é, a idealização é sempre mais emocionante do que a rotina. Tudo que ainda não foi vivenciado sempre parecerá mais interessante. E mais cedo ou mais tarde todo mundo descobre. Hoje, por exemplo, mesmo com toda liberdade, o tédio reina por aqui. Não tenho compromisso nenhum, então, me dou o direito de preservar meu modelito da noite: pijama. Já estou com as solas das meias sujas de tanto que arrastei elas pelo chão, mas me sinto bem assim. É uma semi-paz que transcende a necessidade de fazer exercícios, de tomar um pouco de sol e caminhar por aí. Na verdade, não é paz, mas eu finjo que é, pois estou mais confortável aqui. A hora de almoçar já passou e o horário de jantar ainda está longe, então, me esparramo no sofá com um pacote de bolacha (e antes que comecem com a discussão se é biscoito ou bolacha, digo que na minha terra é bolacha. Aceitem!). Faz tempo que não pego um livro pra ler, mas juro que tem uma justificativa. Ando dispersa. Tanto, que quando estou no meio da página ou já esqueci do que se trata ou dormi. Tem sido assim nos últimos meses, uma mistura de apatia com lembranças distantes de um tempo em que as coisas pareciam mais emocionantes. Sabe esse flashback que tive agora no espelho? Conforme as coisas vão acontecendo, os dias vão passando, eles vêm pra me lembrar que eu já fui diferente disso. Na verdade, eu sou diferente disso, mas especialmente aos domingos eu sinto essa ausência de perspectivas. Eu sei que elas estão aqui, perdidas em algum lugar, mas aos domingos a amnésia é inevitável. Mas calma, amanhã é segunda e possivelmente eu não terei nem tempo de pensar ou de não pensar na vida. Minhas obrigações vão me tirar até o prazer do café e a cada garfada no almoço sentirei o gosto de algum projeto que preciso entregar. Está vendo? Lá vem de novo a saudade de assistir a um filme no meio da tarde comendo brigadeiro de colher. Juro que o brigadeiro não tinha gosto nenhum de escola, só de brigadeiro mesmo. Envelhecer pode ser tão boring. Parece aqueles Natais em que o Papai Noel não vem e nem o presente escolhido compensa a dor. Acho que esse tédio vem justamente pra chacoalhar a gente e mostrar que nada é tão definitivo. Deve ser um jeito meio torto de dizer: procure distração na calma, a vida não é o parque de diversões que você idealizou. E é isso que tenho feito. Passo horas só comigo. Me enfrento. Quanto mais me conheço, menos me reconheço. Mudar é inevitável. Entender os ciclos é, de fato, amadurecer.
Fernanda Gaona

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