Eu amo desorganizado, desavergonhado. Tenho um amor que não é fácil de compreender porque é confuso. Não controlo, não planejo, não guardo para o mês seguinte. Amar demais é o mesmo que não amar. A sobra é o mesmo que a falta.
Não me dou paz um segundo. Medo imenso de perder as amizades, de apertar demais as palavras e estragar o suco, de ser violento com a respiração e virar asma.
Sofro a incompetência natural para medir a linguagem das laranjas; acredito desde pequeno que tudo que cabe na mão me pertence.
Uma ânsia de ser feliz maior do que a coordenação dos braços. Um arroubo de abraçar e de se repartir, de se fazer conhecer, que assusta. Parece agressivo, mas é exagerado.
Conto tragédias de forma engraçada, falo de coisas engraçadas como uma tragédia. Nunca o riso ou o choro acontece quando quero".
Crônica "Bipolar", in: O Amor Esquece de Começar - Fabrício Carpinejar, p.88-89
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